“PEÇO DESCULPAS, MAS NÃO TIVE TIDO TEMPO PARA SER BREVE.”

Pe António Vieira

Quando tocam à campainha e perguntas “quem é?” 

80% chama-se “sou eu” e uns assustadores 20% são alguém cujo nome é “abre”...

Com o mote de “educar pelo exemplo”, lançado a debate (como tantos outros tão oportunos, como é seu hábito) pelo meu Querido Amigo, Prof. Doutor Paulo Morais-Alexandre, a propósito de um aviso aos pais que vão buscar os filhos à escola e que para tanto, numa total falta de sentido de regras de civilidade e respeito pelos outros, estacionam onde calha, pois o que importa, para variar, é resolver a sua “vidinha”... escrevi o seguinte texto.

Como disse Padre António Vieira, “Peço desculpas, mas não tive tido tempo para ser breve.”

Quer-me bem parecer que nós, os portugueses, fomos apurando, ao longo dos anos, esta cultura do “chico-esperto” e de como furar o sistema, a qual se foi massificando e ostracizando aqueles que, por incrível que possa parecer, ainda persistem em seguir as regras de como saber estar em sociedade e da boa educação.

Os exemplos deste tipo de “chico-esperto”, por incrível que possa parecer, abundam! E não se resumem (só) ao estacionar o carro em local proibido, segunda fila ou em cima do passeio... era bom, era!

Não posso, obviamente, ser exaustivo, porque infelizmente os exemplos de incivilidade e de falta de educação são tantas que apenas nomearei alguns, por exemplo a entrada e saída dos de locais públicos sem dar prioridade às gravidas, aos idosos ou a quem tenha handicap, continuando pelo clássico papel deitado ao chão, na rua, ou ao "presente" do canino "esquecido" no passeio para os outros pisarem.

Não nos esqueçamos igualmente dos fura-filas que insistem em passar à frente “apenas para tirar uma dúvida”, porque simplesmente consideram que o seu assunto é bem mais urgente e/ou importante do que o dos demais; ou daqueles (ai aqueles!?) que reservam uns quantos lugares na esplanada para os amigos e/ou parentes que ainda estão a chegar... sempre num futuro muito próximo.

Não poderá faltar referência aos que insistem em não cumprir os horários e deixar os outros a "secar". E isso, sim, é mormente um obstáculo á eficiência.

E a destruição total das regras de convivência parece ser operada no momento em que entramos nos nossos automóveis, quando esses seres se locomovem, ignorando com quem eles partilha o asfalto e enquanto nós esperamos pacientemente numa fila, eles, os “chicos-espertos”, tentam furar, entrando mais á frente na fila e assim “comer de cebolada os tansos que estão à espera feitos parvos”...

Mas são esses, por vezes, que ironicamente são os “heróis” e que impõem a sua vontade à sociedade, sem olhar a quem. E que alternativas surgem? Por cá, em Portugal, tem-se, a meu ver, deixado excessivamente esse papel na Lei. Mas tal solução é claramente falaciosa, uma vez que ainda levará a que cheguemos ao absurdo de se legislar contra as inocentes velhinhas que criticam os mais novos, mas não se coíbem de empurrar todos (os que chegaram bem mais cedo) para entrarem num qualquer autocarro...

Ora, a mudança deverá, então, passar por uma alteração da mentalidade e de forma de estar em sociedade!

E quanto à entidade responsável pela solução do problema, urge fazer uma distinção desde já: enquanto a escola e demais instituições de ensino se destinam a instruir, a convivência familiar em casa destina-se a educar.

Não nos permitamos, por isso a confundir papéis e a imputar responsabilidades aos professores quando a demissão parental condena o indivíduo a uma cultura do “chico-espertismo”.

O trabalho dos professores é muitas vezes dificultado pela falta de base educacional trazida de casa, insuperável pela instrução escolar. E sem dúvida que sucessão de falta de civismo gera um círculo vicioso que urge quebrar se queremos ver uma fatia considerável de muitos problemas resolvidos.

Assim, devemos ter consciência da transversalidade desta realidade e começar a observar os nossos familiares e amigos, alertando e corrigindo todos os comportamentos menos próprios, mas, também e sobretudo a nós mesmos!!!

A título de conclusão, diria que mais do que meros “avisos afixados”, deveríamos antes pensar em acabar com o reino dos “chico-espertos” e que urge reeducar as mentes para os princípios básicos inerentes à vida em sociedade, ou seja, temos que nos consciencializar das nossas obrigações e, contemporaneamente, no respeito pelos direitos dos outros.