Introito: Sendo luso-brasileiro, tenho toda uma vivência daquilo que são estereótipos, quer no Brasil, quer em Portugal. Essa realidade constitui um dos traços essenciais na percepção do mundo que me rodeia e a minha reflexão remonta até uma fase comumente chamada de “tomada de consciência”. Através de uma análise intencional de uma vivência simples, básica e (porque não admiti-lo) privilegiada, ao começar a discernir, percebi o carácter de mundanidade da vida. O mundo está em constante mudança e a vivência vai acontecendo na justa medida que essa transformação se opera, o que acontece a todo o momento. O “eu”, aqui, expressa tão somente aquilo que são as minhas opiniões. Não tenho quaisquer pretensões a ter sempre razão e muito menos a impor quaisquer dogmas.
Dito isto, na minha modesta opinião, o brasileiro duma forma geral, e a sua elite intelectual em particular, vive um eterno desalento e um desgosto por vezes mal disfarçado com as origens históricas do Brasil.
Há como que um desconforto subtil, mas sempre presente, com o facto de o poder colonial ter sido português e não, como eles tanto gostariam que tivesse sido, ou inglês, ou francês ou até mesmo holandês. Este sentimento é transversal à sociedade brasileira... o que não deixa de ser muitíssimo curioso!
Ao longo do século XIX, no Brasil Império, com as vagas de imigrações europeias surgiria um novo tipo de brasileiro, as primeiras gerações de ítalo-brasileiros, germano-brasileiros, sírio-brasileiros, nipo-brasileiros, libanês-brasileiros, etc. que como forma de se afirmarem no novo país e para manifestarem não ter qualquer vínculo sanguíneo e cultural ao povo lusitano, procuraram denegrir e diminuir a imagem do antigo colonizador.
Verdade seja dita que as vagas de emigrantes portugueses, entre 1822 e 1950, no âmbito dum projecto de investigação levado a cabo pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro, através da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo sobre “Emigração de Portugal para o Brasil” permite concluir que a maioria (se não a totalidade) eram praticamente analfabetos, por contraposição aos emigrantes de outras origens, designadamente da Europa Central.
Daí facilmente se compreende a criação dos estereótipos do português lerdo como o "Seu Manuel e o Seu Joaquim”, a “mulher de bigode”, o “padeiro” e o surgimento das célebres piadas de carácter manifestamente xenófobo...
Não posso deixar de lamentar o facto, actualmente, de em Portugal muitos dos imigrantes brasileiros serem a continuidade deste lamentável processo cultural, também eles descendentes de escravos e de indígenas aculturados pela nova sociedade brasileira e que transportam ainda neles esse rancor ao passado histórico colonial... dai as piadolas do "devolvam o nosso ouro" .
Mas tenhamos consciência que se essa raiva permanece viva até hoje, é porque, de há 20 anos a esta parte, foram os governos do PT, dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Vana Rousseff, que implementaram os programas educativos que são ministrados nas escolas às crianças brasileiras e que introduziram uma visão marxista de que foi “o imperialismo colonialista de Portugal no Brasil que roubou as riquezas do país, matou os índios e é o único responsável pelo flagelo da escravatura"...
Já nos antípodas, aparentemente, parece estar o português, naquilo que respeita ao seu passado histórico, nomeadamente no que concerne ao Brasil , que ainda está numa de que o "Pedro Álvares Cabral descobriu (e não conquistou) o território em 1500", que o português não é racista (premissa questionável), que a maioria dos brasileiros são luso-descendentes (o que em termos de estudos demográficos é absolutamente falso), logo são um "povo irmão"... quanta naïveté!
Quanto ao resto da História tudo é mais pacifico!
Poder-se-á, quando muito, levantar algumas questões que suscitam ainda alguma celeuma, mas que se situam na contemporaneidade...
Em suma, como optimista que é (não esquecer o tão luso mito sebástico) o tuga não consegue entender do porquê deste ressabiamento do brasileiro...
Agora, surgiu uma nova estirpe de otimismo que “varreu”, por completo, Portugal nestas últimas semanas.
Sou, por natureza, uma pessoa contida, mas não sei como reagirei da próxima vez que ouvir algum “camone” a dizer que o povo português gosta de estar triste e de aproveitar a sua tristeza, ou não tivéssemos nós a palavra "saudade", para cantar o fado...
Se não vejamos...
Já aqui tinha falado, ontem, nos resultados semestrais que a TAP havia apresentado referentes ao primeiro semestre de ’22, onde perde mais de um milhão de euros por dia. Mas, ter que ouvir a Madame Christine Ourmières-Widener dizer, aos órgãos de comunicação social, que os “resultados são melhores do que o previsto, porque (só) apresentou 202 milhões de euros de prejuízos” e por isso mesmo ”se recusa a reverter os cortes de salário negociados com sindicatos”... é extraordinário!
Pergunto: a Madame Ourmières-Widener, no meio de tanto optimismo, também irá propor à Comissão de Vencimentos uma redução de 20% nos ordenados de todo o Conselho de Administração por forma a ajudar a TAP no seu esforço de recuperação, à semelhança daquilo que já fizeram os sindicatos?
Mais, há dois dias a Senhora Ministra de Estado e da Presidência, Dra. Mariana Vieira da Silva disse que a Serra da Estrela, após os fogos que a devastaram, vai ficar "melhor do que estava" porque o governo vai decretar o estado de calamidade e criar plano de revitalização do Parque Natural.
Das duas uma, ou é excesso de optimismo ou é insensibilidade a mais. Eu inclino-me mais para a segunda hipótese, com umas pitadas daquilo e da coloutro...
Finalmente, para vencedora de Óscar, as declarações da Senhora secretária de Estado da Proteção Civil, Dra. Patrícia Gaspar, quando a um canal de televisão se gabava optimistamente que, este ano, a área ardida era inferior ao esperado, com base em “estudos de que o Ministério dispõe, os algoritmos dizem que a área ardida (…) devia ser 30% superior”... fiquei eufórico!
Atento os dados, os algoritmos e as contas feitas que permitiram à Senhora secretária de Estado da Proteção Civil afirmar que a área ardida em Portugal - até agora - tinha sido inferior à esperada se baseavam num valor que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) lhe havia comunicado, naquela data, conviria, hoje, actualizar que a área queimada ponderada já se situa, infelizmente, nos 131.429 hectares.
Vou tentar, por isso, por forma a facilitar a vida a todos, estabelecer um Glossário;
Pensamento positivo é uma estratégia de controlo das emoções no sentido da diminuição do próprio medo e da ansiedade vivenciada pelo individuo, em determinada situação ou previamente à mesma, por forma a tentar superá-la;
Otimismo traduz-se numa expectativa elevada em alcançar objectivos ou em obter resultados positivos; muito provavelmente experimentando uma mistura de emoções excessivamente confiantes; e
Negação é um mecanismo de defesa inconsciente em que o conflito emocional e a ansiedade são evitados por recusa em reconhecer pensamentos, sentimentos, desejos, impulsos, ou factos que são conscientemente intoleráveis... em suma, o nosso governo!
Ora pois!