MULHERES, VIDA E LIBERDADE NO IRÃO

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As execuções por enforcamento, ontem, em Tearão, de Mohammad Mehdi Karami e de Seyed Mohammad Hosseini, por alegadamente terem participado nuns protestos contra o regime iraniano, em 2022, dos quais resultou a morte de Seyed Ruhollah Ajamian, membro da força paramilitar Basij, em Karaj, a 3 de novembro, foi razão suficiente para que o Tribunal Islâmico, que os julgou e que aplicou a Sharia, os condenasse à forca, segundo a agência noticiosa do Irão, Mizan.

O número total de pessoas conhecidas, até agora, que terão sido executadas pelo regime iraniano relacionadas com os protestos que continuam a varrer o país desde a morte da jovem iraniana curda Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia policial em 16 de setembro pp, ascende já a quatro (4).

Mohammad Hossein Aghasi, um advogado que defendeu Karami, postou na sua conta de Twitter, ontem, que Karami não tinha tido o direito de falar com a família antes da sua execução.

O advogado acrescentou que Karami havia iniciado uma greve de fome, na última quarta-feira, como uma forma de protesto contra as autoridades iranianas por não permitirem que Aghasi o continuasse a representar enquanto advogado.

Quero aqui sublinhar que outros quarenta e um (41) manifestantes já foram sentenciados à morte nos últimos meses, isto de acordo com declarações das próprias autoridades iranianas e/ou com os média iranianos, mas o Ocidente suspeita que o número pode ser muito mais elevado.

Enquanto isso, o editor de política do jornal independente iraniano "Etemad Online", Mehdi Beyk, foi detido na quinta-feira passada, dia 5 de Janeiro, de acordo com um Twitter da própria publicação.

Esta prisão (mais uma) ocorre no meio de uma repressão sem precedentes das autoridades iranianas por forma a tentar colocar um ponto final aos protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini.

Isto porque, desde então, os protestos já não se cingem a protestar contra a obrigatoriedade da utilização do Hijab, mas uniram-se em torno de uma série de queixas contra o regime teocrático e ditatorial iraniano.

Beyk foi detido por agentes do Ministério da Informação do Irão, declarou a sua mulher, Zahra Beyk, na sexta-feira passada.

Ele terá sido detido pelo regime por andar a “entrevistar as famílias de vários dos presos nas manifestações em curso por todo o Irão”, de acordo com um ativista pró-reforma IranWire.

O “telemóvel, o seu laptop e os pertences do jornalista foram confiscados”, tuitou sua a mulher. As autoridades iranianas até ao momento ainda não esclareceram por qual motivo Beyk foi preso.

Uma das atrizes mais populares do Irão, Taraneh Alidoosti, foi, entretanto, libertada sob caução, na passada quarta-feira, dia 4 de janeiro, depois de ter sido presa por também ter criticado publicamente a execução de um manifestante.

Conhecida como ativista feminista, Alidoosti publicou no mês passado uma foto sua na sua conta de Instagram sem o hijab islâmico e segurando um cartaz com a seguinte frase “Mulheres, Vida, Liberdade” para mostrar apoio ao movimento de protesto (foto desta crónica).

Alidoosti ainda não foi formalmente acusada, mas foi inicialmente presa por “falta de provas para suas alegações” em relação ao seu protesto contra o enforcamento de Mohsen Shekari no mês passado, naquela que foi a primeira execução conhecida ligada aos protestos.

Já nem vou aqui recordar o facto da Federação Russa estar a utilizar drones de fabrico iraniano para bombardear alvos civis na Ucrânia, como foram aqueles 45 Shahed de fabrico iraniano que se abateram sobre Kyiv durante a noite de final de ano.

Mas, hoje, cinjo-me, só e apenas, à pena de morte, a qual viola dois direitos humanos essenciais. A saber o direito à vida e o direito a viver livre de tortura.

Ambos os direitos estão protegidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948.

A União Europeia (ao contrário v.g. dos Estados Unidos da América) tem lutado pela aplicação e pelo respeito dos direitos humanos e pela abolição global da pena de morte, o que continua a ser uma prioridade de destaque e Mundial contra a Pena de Morte, reiterando a sua firme posição contra a pena de morte.

E eu sou europeu!!!

Foto: Taraneh Alidoosti numa foto sua na sua conta de Instagram sem o hijab islâmico, na qual que segura um cartaz com a seguinte frase: “Mulheres, Vida, Liberdade” por forma a mostrar apoio aos protestos

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WOMEN, LIFE FREEDOM IN IRAN

The executions by hanging yesterday, in Tehran, of Mohammad Mehdi Karami and Seyed Mohammad Hosseini, for allegedly having participated in protests against the Iranian regime in 2022, which resulted in the death of Seyed Ruhollah Ajamian, a member of the Basij paramilitary force, in Karaj, on November 3, was reason enough for the Islamic Court, which tried them and applied Sharia, to condemn them to hang, according to the Iranian news agency, Mizan.

The total number of people known so far to have been executed by the Iranian regime in connection with the protests that continue to sweep the country since the death of 22-year-old Iranian Kurd Mahsa Amini in police custody on September 16 pp, already amounts to four (4).

Mohammad Hossein Aghasi, a lawyer who defended Karami, posted on his Twitter account yesterday that Karami had not been given the right to speak to the family before his execution.

The lawyer added that Karami started a hunger strike last Wednesday to protest against the Iranian authorities for not allowing Aghasi to continue representing him as a lawyer.

I want to underline here that another forty-one (41) demonstrators have already been sentenced to death in recent months, according to statements by the Iranian authorities and the Iranian media. Still, the West suspects that the number could be much higher.

Meanwhile, according to a Twitter from the publication, the political editor of the independent Iranian newspaper "Etemad Online," Mehdi Beyk, was arrested last Thursday, January 5.

This arrest (yet another one) comes amid an unprecedented crackdown by the Iranian authorities to end the protests triggered by the death of Mahsa Amini.

This is because, since then, the protests are no longer limited to protesting the mandatory use of the Hijab but have united around a series of complaints against the theocratic and dictatorial Iranian regime.

Beyk was detained by agents of Iran's Ministry of Information, his wife, Zahra Beyk, said last Friday.

The regime reportedly detained him for "interviewing the families of several of those arrested in ongoing demonstrations across Iran," according to a pro-reform activist IranWire.

The journalist's "mobile phone, laptop, and belongings were confiscated," his wife tweeted. Iranian authorities have so far not clarified why Beyk was arrested.

One of Iran's most famous actresses, Taraneh Alidoosti, was released on bail last Wednesday, January 4, after being arrested for also publicly criticizing the execution of a demonstrator.

Known as a feminist activist, last month Alidoosti published a photo of herself on her Instagram account without the Islamic Hijab and holding a sign with the following phrase "Mulheres, Vida, Liberdade" to show support for the protest movement (photo in this article).

Alidoosti has yet to be formally charged but was initially arrested for "lack of evidence for her allegations" about her protest against the hanging of Mohsen Shekari last month, in what was the first known execution linked to the protests.

I'm not going to remind you here that the Russian Federation is using Iranian-made drones to bomb civilian targets in Ukraine, like those 45 Iranian-made Shahed that fell over Kyiv on New Year's Eve.

But today, I limit myself only to the death penalty, which violates two fundamental human rights—namely, the right to life and the right to live free from torture.

Both rights are protected by the Universal Declaration of Human Rights, approved by the UN in 1948.

The European Union (as opposed to, e.g., the United States of America) has been fighting for the application and respect of human rights and for the global abolition of the death penalty, which remains a high priority and the World against the Death Penalty, reiterating his firm stand against the death penalty.

And I'm European.

Photo: Taraneh Alidoosti in a photo of her on her Instagram account without the Islamic Hijab, in which she is holding a sign with the following phrase: "Women, Life, Freedom" to show support for the protests